Você já ouviu falar em psicofobia? Apesar de parecer novo para alguns, o termo causa danos irreversíveis na vida de outros. Como o nome dá a entender, está relacionado ao medo de uma pessoa que vive com transtornos e/ou deficiências mentais. Mas a discussão pode ir mais além
O sufixo fobia presente na palavra é originário do grego Φόβος, phóbos, que representa “medo. Em linguagem comum, é o temor ou aversão exagerada a situações, objetos, animais, lugares, etc. Alguns termos popularmente conhecidos que acompanham o sufixo são homofobia e xenofobia.
Se nos exemplos acima um demonstra o medo de algum indivíduo ou sociedade a membros da comunidade LGBTTQIA+ e o outros o medo de pessoas de uma determinada região, quando citamos psicofobia abordamos também a invisibilidade ou inferioridade de sujeitos que necessitam de ajuda psicológica.
Para tratar do tema de maneira mais aprofundada, a escutaaqui preparou um artigo mais que especial. Nos tópicos abaixo, descubra:
A psicofobia pode ser entendida como o preconceito perante pessoas que possuem algum transtorno mental. Ou seja, quando inferioriza uma pessoa dizendo coisas como "isso é frescura", "você está se fazendo de vítima", ou quando se diz que alguém é "louco" porque possui um transtorno mental.
O tema
“saúde mental” tem se tornado extremamente relevante nos últimos anos, mas antigamente as coisas não eram exatamente assim. Para se ter uma ideia, quem possuía transtornos mentais era acusado de bruxaria ou de ser possuído por demônios.
Antes, o assunto não era levado a sério. Por mais que vários paradigmas já tenham sido quebrados,
ainda existe muita gente que ainda acredita que esses transtornos são males demoníacos ou até mesmo coisas banais.
Algumas frases que escutamos diariamente e que podem ser qualificadas como psicofobia são:
Você já escutou ou até mesmo falou algumas das frases mencionadas acima? Uma das grandes desvantagens da sociedade foi ter
normalizado o tratamento a pessoas com transtornos mentais de forma negligenciada. O resultado, do outro lado, é a exclusão e a solidão.
Antes mesmo de saber quais são os impactos reais, é necessário entender alguns números. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 700 milhões de pessoas no mundo possuem algum tipo de transtorno mental.
Só no Brasil temos 50 milhões de doentes e a América Latina está em 3º lugar no ranking mundial. Ainda de acordo com a OMS, 20% dos adolescentes padecem com Depressão.
Todos esses números alarmantes comprovam que doenças psíquicas não são raras e devem ser tratadas com extrema atenção. Por isso, quando há psicofobia em um espaço, os efeitos são os mais negativos possíveis.
Além da solidão e exclusão já citados, outros impactos negativos são:
A psicofobia também pode
levar ao suicídio de quem recebe as ofensas. E existem números que comprovam.
De acordo com a
Revista Época, apenas em 2012 cerca de 11.800 pessoas cometeram suicídio após passar por situação preconceituosas, envolvendo seus transtornos mentais. Esse dado é apenas do Brasil.
Para tentar reverter esse quadro, a Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP, criou a Campanha contra a Psicofobia, para alertar sobre o preconceito contra os portadores de Transtornos Mentais.
A grande cara dessa campanha — e também um dos cunhadores do termo — é o comediante
Chico Anysio, que faleceu em 2012. Durante 24 anos, viveu com depressão e
sempre deixou claro que o seu quadro não se agravou mais por conta das
sessões de terapia.
Chico afirmou que as pessoas ficavam espantadas quando ele relatava que vivia com depressão. Pelo fato de levar alegria aos lares, parecia “impossível” ele ter o transtorno.
Para a ABP disse:
“se não fosse o tratamento psiquiátrico, não teria feito nem 20% do que fiz em minha vida. [...] Quanto mais pessoas me ouvirem falar sobre a depressão, mais pessoas vão deixar de ter vergonha de ser deprimido”.
Outras personalidades da mídia já aderiram ao movimento, como o locutor esportivo Luciano do Valle, o ator Reynaldo Gianecchini, a atriz Bárbara Paz, o jornalista e escritor Ruy Castro, entre tantos outros.
Já em 2016 foi criado o
“Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia”, a data escolhida foi o dia
12 de abril. O propósito é tornar a conscientização ampla durante todo o mês de abril — assim como ocorre com o Outubro Rosa, Novembro Amarelo, etc.
Na época, o Presidente da ACP, médico psiquiatra Eduardo Mylius Pimentel, destacou os principais desafios da entidade:
“Estamos comprometidos em conscientizar o público comum sobre as enfermidades mentais, com o intuito de diminuir os estigmas que esses pacientes sofrem. Diminuindo o preconceito, podemos fazer com que outras pessoas também procurem ajuda médica. Um diagnóstico precoce é essencial para um bom desempenho do tratamento.”
Um dos motes da campanha é
“Você Não Está Sozinho”, justamente para demonstrar que a psicofobia existe, e que deve ser combatida ao máximo.
Ainda não há uma lei aprovada que trata especificamente da psicofobia. No entanto, está tramitando no Senado Federal o PLS nº 74, de 2014, de autoria do Senador Paulo Davim. A ideia é tratar legalmente o termo da mesma forma de outros preconceitos sociais, como racismo e homofobia.
A Ementa diz:
“Altera a Lei nº 7.853, de 1989, para tipificar crimes contra pessoas com
deficiência ou com transtorno mental, bem como o Decreto-Lei nº 2.848, de 1940
(Código Penal), para tornar qualificado o crime cometido contra as pessoas com transtorno mental.”
Lembrando que a
Lei nº 7.853 é relacionada ao direito de portadores de deficiência na sociedade. Já o
Decreto-Lei nº 2.848, de 1940 afirma que a legítima defesa precisa ser utilizada em injusta agressão, seja física ou psicológica.
A expectativa é que a psicofobia vire sim crime para assegurar a sanidade mental de todos os brasileiros que convivem com distintos transtornos mentais.
Se você conhece alguém que está passando por situações psicofóbicas, não deixe de ampará-la. É muito importante frisar que a pessoa não está sozinha nessa situação e que precisa iniciar, continuar ou retomar com o acompanhamento de profissionais da psicologia.
Essa ação pode, inclusive, evitar que o prejudicado tome atitudes graves, como partir para agressão, abusar de substâncias tóxicas ou até mesmo suicídio. Após ter um acompanhamento psicológico, o profissional cabível determinará qual o melhor tratamento.
Agora,
se você reconhece que está passando por preconceitos psicofóbicos, não subestime a sua dor e
procure ajuda imediatamente. Se possível, peça suporte para as pessoas que realmente se importam com a sua saúde mental e encaminhe o caso para um psicólogo.
Qualquer atitude precipitada deve ser evitada. A psicofobia existe, assim como toda uma rede de apoio que já está pronta para escutar e aliviar as suas dores.
Se uma das suas preocupações for a questão financeira, procure por profissionais ou plataformas que disponibilizam sessões sociais. Em suma, você recebe o mesmo tratamento de qualidade, mas por um preço muito inferior.
Por mais que você não tenha percebido, alguns filmes renomados possuem como temática a psicofobia. O reflexo desse mal pode ser percebido em alguns dos comportamentos dos personagens e também do desenrolar da história. Confira:
Esse filme de 1994, cujo protagonista é Tom Hanks, que interpreta o Forest. O filme mostra um diagnóstico muito próximo à Síndrome de Asperger, cujos sintomas apresentam uma elevada inteligência, criatividade, talentos e habilidades incríveis.
No entanto, Forest passa por humilhações diárias, tanto pelo seu estado físico quanto pela sua personalidade retraída. Por isso, em alguns momentos da vida, prefere estar isolado e sem o contato da sociedade.
Já esse sucesso de 2019 traz o Coringa (interpretado por Joaquin Phoenix) em uma situação completamente variável. O palhaço que não consegue sucesso apresenta sinais de depressão, bipolaridade, somatização e ansiedade.
O estopim ocorre quando é tratado como “uma piada de mau gosto” em plena rede nacional. Apesar das cenas serem fortes, demonstra como anos de exclusão e solidão podem afetar o nosso consciente.
É a história de uma adolescente negra e pobre, que sofre de obesidade e ainda é vítima de violência sexual. O filme leva o espectador a fazer uma análise crítica não apenas das questões misóginas e raciais, mas para pensar sobre as consequências e causas de sérios transtornos psíquicos e emocionais, da resistência e fragilidade, sanidade e insanidade.
Ao final deste artigo podemos perceber que as palavras machucam e que a psicofobia não é brincadeira. Aliás, precisa ser pautada e discutida como qualquer outro preconceito existente na nossa sociedade.
Se você algum dia já falou algumas das frases aqui citadas ou apresentou atitudes psicofóbicas, repense seus atos e esteja de coração aberto para pedir desculpa a quem injuriou.
Agora, se você está passando por essa situação ou conhece alguém, não deixe de procurar auxílio psicológico. A Justiça também pode ser acionada. Não deixe que um assunto tão importante seja minimizado.
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